de 02.nov de 2020 a 02.jan de 2021
A compreensão das questões essenciais que atravessam o trabalho da artista têxtil Vanessa Freitag são colocados nessa exposição: Suas obras, de forte impacto material, trazem diferentes formas orgânicas que desenham um jardim particular, cercado por flores, espinhos e ninhos de cobras que ocupam diferentes espaços, perfurando ou brotando como ervas daninhas que precisam mostrar-se em uma imponência dramática.
Em seus projetos, a artista parte da manualidade popular - ainda desvalorizado como técnica dentro das artes visuais - para criar uma imagem muito forte e potente. É um trabalho simbiótico - termo derivado de simbiose, o ato de juntar intimimamente duas pessoas ou duas espécies - que une o espectador ao pensamento da artista, criando conexões que vão além da contemplação da beleza do trabalho e desembocam em conexões materiais, reflexões e a busca por respostas. Afinal, será que um trabalho artístico precisa ficar preso apenas ao conceito do artista ou o olhar do público também é um complemento à criação?
Ao criar uma série de trabalhos que questionam visualmente o papel social do feminino, como na obra Adaptação (2020), a artista coloca em voga um conceito intrínseco ao seu trabalho - a dualidade. Nesse trabalho, as flores, sempre associadas ao feminino pela delicadeza, tem suas formas distorcidas para mostrar a agressividade e tencionalidade de adaptação da mulher, sufocada por uma forma que tenta cobri-la, como uma raíz, mas que é acompanhada da passibilidade demonstrada no rosto dessa mesma mulher, como se a mesma estivesse integrada as formas, conformada.
A útopica simbiose buscada pela artista, frente à uma sociedade cada vez mais individualista, anti-ecologista e com foco em diferentes egos tem um papel importante em seu trabalho: é preciso olhar para as nossas raízes, para a nossa natureza, entender a importância do espaço da troca e do diálogo. Desequilibrios em escala são gerados em sociedades que esquecem das suas origens, da organicidade das relações que precisamos ter.
As artes manuais populares (onde podemos considerar a têxtil) que são conhecidas por atravessarem gerações por transmissão oral, tem perdido espaço para a industrialização social, esquecendo que o ser e o meio tem relações intrínsecas. Essas relações são trazidas pela artista ao nomear suas obras com nomes que remetem a natureza, como ninho de cobra, insetos, flores, partindo do conceito de ecossistema para falar sobre a necessidade de integração: nós precisamos uns dos outros.
Em pequeno jardim simbiótico apresentamos um repertório selecionado pela própria, em uma curadoria pensada em conjunto: a necessidade da artista de mostrar o seu jardim em diferentes proporções e a necessidade do curador em falar sobre esse trabalho. Não há hierarquia: tudo foi construído em uma simbiose.
Paulo Farias
Curador
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Sobre a artista
Vanessa Freitag
Brasil/México

Natural de Santa Rosa, Brasil, estou radicada no México desde 2008. Tenho Bacharelado em Desenho e Plástica, Licenciatura em Arte-Educaçao e Mestrado em Educação pela Universidade Federal de Santa Maria, Brasil, com Doutorado em Ciências Sociais por CIESAS-Occidente (Guadalajara/México).
Me divido entre a docência e a pesquisa sobre artesanato mexicano e brasileiro, as práticas artesanais tradicionais e a arte têxtil contemporânea na Universidad de Guanajuato/México.
Desenvolvo pesquisas sobre o fazer e pensar a prática artística com a linguagem têxtil, em que exploro diferentes técnicas como o crochê, a costura e o bordado. Meus temas de interesse giram em torno da memória, corpo e identidade, assim como os saberes artesanais. Em meu trabalho, pesquiso a linguagem têxtil e suas possibilidades como a costura, o crochê, o bordado e o tecido, para a criação de objetos sensoriais que ocupam o espaço.
Experimento com materiais reciclados/desapegados para construir formas orgânicas que habitam meu universo imaginado. Com isso, pretendo estimular uma ampla gama de sentidos, tanto táteis quanto visuais, e de alguma forma, aludir à flora e fauna do meu país de origem, bem como, do entorno em que radico atualmente.
As memórias de infância, as práticas e processos artesanais, os espaços urbanos e domésticos – como os jardins -, são alguns dos meus interesses de investigação. Desejo emular um tipo de simbiose entre minhas lembranças do passado e as vivências do presente, entre a botânica do Brasil e a do México. Ao mesmo tempo, visibilizar as tensões que observo entre trabalho manual e emocional, entre o sentido de pertencimento e o desenraizamento que provoca viver longe da minha terra natal. O resultado é a criação de seres que habitam um espaço, cujo processo de criação, me permite gerar um sentido de apego e familiaridade com relação ao lugar que habita meu corpo.