Atendendo o convite para colaborar com o blog do site sobre artistas latinas, que recebi com muito entusiasmo, pois o site reúne conteúdos que sempre procurei online e não encontrava, em especial em português. Sou acadêmica de artes visuais, e nas aulas de história da arte sempre senti as ausência das mulheres artistas latinas. A revisão acadêmica vem ocorrendo, mas ainda o foco está nas artistas europeias, e todos esses países vizinhos?
Então, com o confinamento epidêmico, estabeleci como foco estudar, pesquisar artistas latinas. Para divulgar as obras que encontrava, fui desenvolvendo um Instagram com as artistas. Durante a pesquisa, estou encontrando materiais interessantes, que neste post compartilharei.
Maria Martins: a escultura surrealista brasileira que está presente em vários espaços públicos brasileiros. Na década de 1940, explorando a sexualidade, Maria era taxada como uma artista obscena, ao expor suas criações com deusas e monstros sensuais e bárbaros. Bem relacionada, foi articuladora e teve uma atuação marcante nas Bienais de São Paulo. Mas como em toda biografia, em especial de uma mulher, seu relacionamento com Marcel Duchamp, seja o fato mais recordado.
Minha primeira dica, para saber mais sobre a relação do casal Maria e Marcel é o livro do pesquisador Raúl Antelo: “Maria com Marcel, Duchamp nos trópicos” (UFMG). É interessante percorrer a trajetória de Maria Martins e acompanhar como ela foi construindo um lugar para si mesma. Minha dica seguinte, ainda sobre Maria, é um belíssimo documentário. Lançado em 2017: “Maria – não esqueça que eu venho dos trópicos”, foi dirigido por Elisa Gomes e Francisco Martins, e contou com Malu Mader como narradora.
Todo este movimento em torno de Maria Martins, e a sua inserção na historiografia da arte brasileira, foi iniciada pela historiadora da arte Graça Ramos que em 2009, quando lança o livro “escultora dos trópicos”. Neste resgate sobre a artista, e seus aspectos transgressores que colidiram por vários anos com meio artístico conservador brasileiro.
Débora Arango: dividida em dez capítulos a minissérie “Débora, la mujer que desnudo a Colombia” (2018), narra a trajetória da pintora e professora de arte colombiana, Débora Arango. Desde seu processo formativo, dramas familiares, mas sobre tudo, evidencia a sociedade machista e conservadora com a qual a pintora teve que lidar por quase toda sua vida para criar. Para além, dos tradicionais cânones artísticos tão dificultosos para as artistas mulheres, o enredo desta produção da televisão pública de Antioquia, demostra os cânones sociais que imperavam nas vidas das artistas. A produção possui uma estética diferente das minisséries que estamos habituados a acompanhar, por vezes simples, mas temos que considerar é uma produção de televisão pública, com poucos recursos.
Débora Arango, teve uma carreira muito complicada, foi censurada diversas vezes e com frequência suas exposições eram encerradas antes do previsto. Também despertava muita curiosidade entre seus contemporâneos. Como legado, temos em suas obras a imagem de uma Colômbia narrada visualmente, através de obras pictóricas.
Depois de todas adversidades que a artista enfrentou, hoje ela vem ganhando mais espaços na historiografia colombiana, e uma curiosidade: atualmente estampa a cédula de dois mil pesos colombianos e circula entre o povo, que tanto retratou. Para saber mais: http://debora.teleantioquia.co/historia.html
Captura, abertura oficial da minissérie: “Débora, la mujer que desnudo a Colombia” (2018).
Violeta Parra: o filme sobre a artista chilena, é uma ótima entrada ao seu mundo de criações. ‘Violeta foi para o céu” de 2011, foi dirigido por Andres Wood (mesmo diretor do filme Machuca). “Violeta se fue a los cielos”, narra a trajetória da cantora que resgatou o folclore chileno e a identidade indígena de seu país e demais países vizinhos, da cordilheira dos Andes. Após longa pesquisa, ela musicou o conhecimento que lhe foi passado através da oralidade. Além de musicista autodidata, foi uma importante artista visual. Sendo a primeira artista hispânica a expor no Louvre. Seus bordados, óleos, esculturas em papel machê, foram expostos no Pavilhão Marsan do Museu de Artes Decorativas do Louvre, onde ela literalmente tocou a porta do museu e pediu para expor. Em 1964 após várias negociações, finalmente foi selecionada. Como cantora sua composição mais reconhecida é “Gracias a la vida”, famosa na voz da cantora argentina Mercedes Sosa.
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por
Jacinta Griebeler (Tita)
https://www.instagram.com/historiadaparte/
Sobre a autora
É Tradutora de língua espanhola, Acadêmica de Artes Visuais na Universidade Estadual do Rio Grande do Sul e atua como mediadora e propositora educativa em espaços expositivos na FUNDARTE/ RS.
Este post foi realizado em uma parceria entre as páginas Artistas Latinas e História da (p)Arte.
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