A arte de Valquiria Navarro alcança, lodo de início, o principal objetivo de grande parte das produções artísticas: despertar sensações no público. É quase impossível passar indiferente pelas imensas esculturas ou pelas delicadas obras em escala menor. E por falar em escala, quem espera a reprodução fiel de cada um dos membros humanos, sentirá uma estranheza ao se deparar com os corpos disformes; Já os que seguem em busca da representatividade de corpos fora dos padrões, se atentarão aos detalhes e, com um olhar mais sensível, poderão até mesmo identificar pensamentos e ações dessas expressivas esculturas.
Conheci a obra de Valquiria Navarro no auge da pandemia, na “Residência na Residência”, programa de residência artística promovido pelo Ciantec. Era um momento em que restaurantes e gestores de espaços culturais procuravam uma alternativa para a reabertura dos lugares, e uma das opções seria incluir esculturas nos espaços vazios, a fim de manter o distanciamento social. Isso aconteceu nos Estados Unidos; no Brasil, não passou de uma vontade, devido aos custos de produção e manutenção. Ao tomar conhecimento das esculturas da artista Valquiria Navarro nesse contexto, fui levada à reflexão a respeito da solidão x aglomeração x ocupação dos espaços públicos.
Sua instalação “Aglomerações”, de caráter atemporal (tendo em vista que essa palavra está mais em voga hoje em dia do que no momento da criação), mais uma vez nos leva a uma análise profunda. Por meio das disposições das obras, percebe-se a solidão/individualidade presentes nos corpos curvados, na introspecção das esculturas: mesmo nas aglomerações, há solidão.
Com uma pitada de esperança, podemos concluir, pela arte de Valquiria Navarro, que, ao nos interessarmos pelo outro indivíduo e permanecermos nessa caminhada com atenção, a essência de cada um pode ser aflorada. E quanto mais arte pelo caminho, mais significativo será esse florescer.
Thais Polimeni, mentora artística e curadora de projetos de Economia Criativa